"REVOLUÇÃO de VELUDO" - À conversa com Pedro Solaris dos DIVA

Podia ter sido numa qualquer esplanada do país, ao balcão de um quiosque, até mesmo na fila para pagar a luz ou à espera que o barco chegasse.

Podia ter sido em qualquer lugar, podia ter sido comigo ou com qualquer um de nós.

Podia, mas a verdade é que o resultado de uma conversa assim teria sido concerteza o mesmo do que aquele que vos descrevo abaixo. Juntou à conversa dois Músicos, duas pessoas e um tema que nos apaixona. A arte em portugal, a nova fé em nós próprios enquanto povo criativo que sempre fomos, esta "revolução de veludo" que o Pedro algures a meio da conversa baptizou, este novo e positivo sebastianismo, ou como falava à dias com o Sérgio Vocalista dos Nervo, o ressuscitar do espírito marialva no coração curioso dos portugueses.

Esta conversa foi entre o bruno e o pedro, foi no mail do myspace, mas podia ter sido entre qualquer músico português neste portugal criativo e rebelde que agora parece ter causas e vontades.

boa leitura... encontramo-nos no fim. até já!

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07 Jul 2009, 22:12
Assunto:
o mar ondula e ...
Texto:
Adorámos tudo. Somos fãs! Como viram o movimento é feito de músicos, as bandas uniram-se em volta de ideais e da poesia portuguesa e dos novos projectos. Não é uma editora nem nada empresarial. Somos uma espécie de sebastianistas XXI, conformados com o não retorno físico, mas sabedores da força do retorno etéreo. Inabaláveis na fé, alegres nesta força que nos leva a inventar meios, a desencantar juntos concertos e festivais. Criamos nós as nossas jarras a partir do barro que juntamos uns dos outros. e é com essa jarra que se vai formoso e seguro este MAR, este movimento. (...) mas acima de tudo porque aposta forte, como o mar, na sua presença ondulante e na diferença dos géneros musicais.um grande abraço

MAR

13 Jul 2009, 21:39
Assunto:
MAR
Texto:
OLá MAR Peço desculpa por só agora responder mas estamos em estúdio a gravar os novos temas do próximo disco.Obrigado pela mensagem e pelas vossas palavras sobre o grande dilema que é ser “artista” em Portugal.

Sempre gostei de movimentos e por isso sempre lutei para que os mesmos vissem a luz do dia e houvesse um fio condutor entre todas as artes que se fazem neste nosso cantinho. Ganhei algumas guerras e outras nem por isso. Por isso, desde já, os meus parabéns pelo vosso MAR.

Nunca fez grande sentido para nós mais do que a música pela música. Talvez, porque cedo percebemos que a música não era tida como uma forma de vida. A tristeza perante esta atitude, eventualmente, fortaleceu a nossa vontade em trilhar o nosso caminho e não ceder a tentações, mesmo quando as editoras nos acenaram com propostas com muitos números. Sempre nos mantivemos no nosso caminho, para o bem e para o mal. Por isso a determinada altura decidimos parar. O bicho da música é terrível e quando entra na nossa pele é como uma tatuagem.

Por isso, desde o ano passado voltámos ao estúdio para fazer outra vez barulho. É uma sensação super gratificante ouvir uma amálgama de sons que teimosamente quer atingir a autonomia. Por vezes, de forma inconsciente, voltamos a ouvir os mesmos sons e aí ficamos a saber que do caos nasceu mais um tema.Sempre fomos assim, gozo puro com a música, sem cedências, sem expectativas, sempre com vontade de mergulhar num MAR de sons e imagens. O caos é o nosso nome do meio.Tudo isto para dizer que gostamos da vossa atitude e do que estão a fazer em prol da música nacional. O caminho está armadilhado mas com a ajuda de todos é possível fazer a diferença.

O grande problema da música em Portugal sempre passou pela distribuição e pela difusão. As nossas rádios, infelizmente, ainda privilegiam os artistas estrangeiros e por isso a difusão do “produto interno” é bastante deficiente. O myspace é uma nova fronteira, mas longe do “poder” de comunicação que tem a rádio e a televisão. Sempre que precisarem contem com os DIVa.

Mega Abraço
Pedro Solaris

13 Jul 2009, 22:34
Assunto:

RE: MAR
Texto:
Palavras verdadeiras, e muito muito encorajadoras. Acima de tudo especiais por ser de quem é!Pedro, quero te perguntar se posso publicar este teu texto no nosso blog, pois considero um testemunho tão sincero e tão oportuno para que os novos projectos saibam que as palavras "trabalho" e "criatividade" são sinonimos de dedicação a quem acredita em si como músico.

Um misto mágico de satisfação pela luta de uma vontade que muitas vezes só é traduzida em notas e refrões.Se o permitires, agradeço te em nome das bandas que se uniram nesta amizade de fazer música juntos e em português.

Fica desde já a notícia que estamos presentemente a organizar uma série de Concertos acústicos no simpatico e intimista teatro da comédia nas janelas verdes em lisboa a acontecer em simultaneo com concertos em bar, no gasoil no chiado. Os primeiros em todas as 4ªs feiras e às sextas nos bares ( 9 concertos no total, emparelhando as bandas de forma a que pela primeira vez os espectadores tenham curiosidade de ver os projectos nesses dois registos tão distintos ) a organizarmos com a ingenuidade natural de quem organiza tudo com muito coração e pouca experiência, mas com a fé e a vontade do nosso lado, contamos acima de tudo com apoios e amizades como a tua ( vossa dos diva ) e como dos locais que apostam contra tudo em trazer gente à rua ouvir musica, sair de casa e confraternizar neste ambiente criativo e positivo.

Desculpa me um texto tão extenso, mas as tuas palavras e este projecto parece que incitam a falar, a escrever, a divulgar... e assim enchi ( enchemos ) o peito e calquei este teclado.deixo o meu contacto ( em nome do movimento ) para qualquer coisa que os diva necessitem. o movimento humildemente está aqui para o que der e vier.

um muito obrigado e forte abraço para ti pedro e para todos os DIVA

ps: mais que convidados para setembro e bemvindos à nossa simpática e solarenga casa


15 Jul 2009, 01:33
Assunto:
Revolução de veludo
Texto:
Amigo Bruno, é claro que podes utilizar as palavras que escrevi.

As palavras ou a música só são nossas durante o acto criativo. Se aqueles que nos rodeiam insistirem em ler o que ficou escrito, ou ouvir de novo os mesmos sons gravados, a obra deixa-nos de pertencer.Qualquer movimento deixa-me sempre alerta e disposto a saber mais. O MAR, particularmente, deixou-me com curiosidade sobre os propósitos a atingir.

Passada a surpresa, verifiquei que pretendia indicar um novo rumo para todos aqueles que gostam de música. Sempre achei que em Portugal as coisas estavam um pouco mal arrumadas, uma vez que uns chatos insistiam que para cada estilo musical, unicamente poderia existir um representante. Durante anos, vi bandas ou interpretes, super interessantes serem arrasados e esquecidos pelo simples facto de terem parecenças com alguém que já estava na “praça”. Por isso, gosto de ver movimentos que atentam contra este estado de coisas. Que teimam em afirmar a diferença. Que se revoltam contra a inércia de algumas pessoas que pululam neste meio musical.Sempre gostei daquela ideia de que os movimentos precisam do apoio de “imensas minorias” para atingirem os resultados desejados.

Gosto de revoltas, de mudança. Talvez por isso, a maioria das vezes o nosso processo criativo necessite desta tónica. Quando os temas já estão feitos e finalizados começa o festim. Adoramos destruir aquilo que já estava construído. Dizendo de um outro modo, ao longo do tempo temos aprendido muito com este exercício de “desconstruir” os temas/canções.

É preciso habituar o MUNDO a OUVER (ouvir e ver) as novas sonoridades que se vão fazendo neste nosso Portugal.

O movimento precisa de crescer todos os dias com a ajuda de todos nós.

Mega abraço!Pedro Soláris


Esta conversa foi publicada ( como puderam ler ) com o consentimento do Pedro. Aliás, a meio da conversa eu devia ter percebido que era obvio que alguém como ele assentiria na publicação.

quis publica-la aqui, porque tem um significado muito especial que não o vou descrever, pois quem leu esta conversa concerteza também o está a atingir.

Fica a nota pessoal para terminar, que voltei aos DIVA para ouvir e fiquei acima de tudo envergonhado por ter na minha mente a palavra "recordar". Mas não me interpretem mal, recordar é bom, significa pelo menos para mim consciencialização de um estado presente. Mas é bem claro que importa o passado como instrumento do amanhã. E os Diva garantem este amanhã com a graça de pertencer ao hoje de pedra e cal, como puderam sentir nas palavras do Pedro. E isso sente-se também quando visitarem os
DIVA no seu myspace.

Por isso digo muitas vezes, e nós no movimento e entre as bandas , gente que se esforça todos os dias por manter viva a chama deste positivismo invulgar que agora graça os dias de hoje, falamos entre nós que somos uma súmula de gerações, com vontade de pertencer ao hoje com o amanhã no peito.

Marialvas, sebastianistas renovados, aveludados revoltosos... todos...

Bem vindos... a este maravilhoso amanhã!!!


PELO MOVIMENTO

bruno broa