NERVO's de Aço no Freiras Bar - Moita 10-05-09 02:00 AM
Sinto-me um privilegiado, um verdadeiro bastardo sortudo por ter visto os Nervo ao vivo pela primeira vez. Sabem a sensação de quando temos uma banda que de facto adoramos e nos deixa delirantes mas que, de tanto ouvir, já quase a gastámos e desejamos poder ser possível ouvir os temas com a frescura da primeira vez? Eu fi-lo!
E que primeira vez...
Precedidos por uma banda cheia de estilo, de seu nome "Prowl", histericamente gritada por um público escasso e pós-pubertário delirante, os Nervo enfrentaram uma plateia que, de repente, encheu o Freiras Bar, preparada e expectante para a apresentação do álbum "Tripas Coração" (uma edição de autor que só mostra quão podres estão os gostos das editoras e decisores viciados da música em Portugal).
Tenho de dizê-lo de novo: que primeira vez! Confesso que conhecia e delirava com a "Canção de Rádio", que nesse mesmo dia passou nos discos pedidos da Antena 3 (mais uma iniciativa MAR que permitirá passar uma banda sua em cada sábado destes próximos - Cinza no dia 16, entre as 13h e as 14h), mas a vastidão puramente rock-n-rolleira dos restantes temas dos Nervo foi uma surpresa deliciosa, um contágio de guitarradas que me encheu de "pica" durante o concerto inteiro!
Assim que esta banda começa a quebrar recordes de decibéis, percebe-se que estamos perante cinco encarnações do espírito rock and roll no seu mais puro e duro sentido: carradas de estilo, provocação do público (principalmente por parte do vocalista, uma verdadeira projecção de "Belezebu" em cima do palco), grandes riffs, grandes malhas, letras alucinadas e alucinantes, um gozo total!
Destaco, por não me conseguir recordar claramente de todo o concerto, tal a agitação que tomou conta de mim, os três temas seguintes como ex-libris de um espectáculo que não esquecerei tão facilmente:
- Canção de Rádio - Um "must"! Cargas de energia, "guitarra eléctrica, bombos, concertinas" disparadas contra o público, que simplesmente não consegue ficar quieto!
- Comprimido Pop - O contágio sob a forma de canção, riffs muito bem esgalhados, uma letra do mais boémio que há... divinal!
- Feitiço de Belzebu - Um tema que só estreará no próximo álbum e que nos foi gentilmente mostrado em encore, juntamente com a repetição da "Canção de Rádio". Se este for um apontar do caminho que os Nervo seguirão, vou-me render inequivocamente também ao próximo trabalho. Um tema demoníaco, cantado em plena lua cheia, pontuado de "Bu"'s que ninguém conseguiu calar!
No geral, os Nervo mostraram uma coesão e energia inegáveis, uma presença vibrante e uma marca de irreverência na pessoa do vocalista, um personagem fascinante e quase invasoramente à vontade em cima do palco. Ele ri como um demónio, salta, grita, trauteia, põe o microfone no bolso, goza e teatraliza as canções como um front-man nascido para os palcos.
O nosso Paulo Candeias, que tive o privilégio de ver tocar pela primeira vez, arrasou em palco, tocando baixo de uma forma que nunca tinha visto, dedilhando-o e tonando os bombos com um groove impressionante. O esforço levou até a uma lesão, resolvida de forma original e surpreendente pelo resto da banda. O dono do bar foi para a bateria, o baterista agarrou na pandeireta, o guitarrista fez uma versão quase acústica do "Comprimido Pop" e lá fomos nós embalados e iludidos, como se nada tivesse acontecido, a retirar um pouco mais de gozo daquela situação que poderia simplesmente arrasar o concerto de qualquer outra banda que não estivesse habituada aos palcos.
So tenho pena de quem não foi...
Nervo's de Aço!
texto Gonçalo Miragaia