O associativismo, e acima de tudo o associativismo livre e virado para o espírito empreendedor com características culturais é algo que aparenta rarear pelas bandas deste belo país.
Disse, aparenta, e é bom que se retenha esta palavra, pois ela é quase o cerne de todo este post.
Pois ao contrário do que o ditado diz que estas iludem ou de que vivemos num mundo delas, é importante frisar que na perspectiva deste humilde fala barato e monologueiro, não há mal nenhum em pensar com brio na capacidade comunicar forte e aparentar gigante uma determinada acção no mundo do espectáculo.
Confusos? É possível. Mas se ponderarem bem e perscrutarem a vossa ideia de espectáculo como artistas e como espectadores, ela é bem mais sonante e marcante na memória que guardam, quando é um espectáculo vivo e cheio de pessoas. Cinquenta por cento do sucesso deste vive da força da presença e da capacidade dos artistas em exorcizarem as energias de uma massa de gente que ali se presta, pela simples presença, para isso mesmo. Alias, não é errado afirmar mesmo que é para isso que elas se deslocaram, para que o artista as faça vibrar e entrar num outro plano da nossa existência, o do tirar os pés do chão. Pois que de chão já nos bastará a eternidade do além.
Esta divisão de tarefas, responsabilidades e direitos num espectáculo trata e sempre se tratou de um elo simbiótico que ambas as partes têm de perceber e cumprir, mas de forma sincera e espontânea… ninguém disse que era fácil.
Trata-se de aparentar aquilo que se prevê como bom e positivo. Estabelecer no fundo uma meta, e largar para trás esta pequenez que sempre assolou o espírito nacional, no medo de arriscar, no receio de não ser bem sucedido, e de insitentemente acreditar que é um jogo de azar onde se lançam dados com toda a imprevisibilidade que lhes é característica, quando no fundo é sim um jogo de sorte, mas mais de trabalho e estratégia e de claros objectivos, taxas de sucesso e margens de manobra. Ou seja, uma tarefa assente numa considerável previsibilidade. Considerável… não disse segura. Mas também já se sabe o que é certo nesta vida não é?
Mas tal como fazer por parecer que algo vai ser mágico e memorável, existem também as aparências negativas. Esta por exemplo que iniciou o texto, o de que parece que nada acontece no nosso país e de que quando acontece não aparenta ser nada de especial ou digno de nos tirar de casa.
Em primeira análise, as culpas não podem recair só sobre os hábitos culturais e quase embrenhados no código genético do público. Este existe, está lá, é crítico e opinativo. Mas em análise mais séria e crítica, a culpa é de todos e a resolução deve partir sempre da parte interessada. E mesmo que cativar não seja tarefa fácil, também não é inatingível nem é o fim do mundo ou algo tão exasperante que nos impeça de insistir e seguir em frente.
No mundo dos fenómenos globais da comunicação que acabaram por produzir um falso sentimento de comunidade, existem determinados mecanismos de promoção, que quanto mais famosos e populares, mais saturados e inteligíveis se tornam ao nível da oferta cultural. Quase o equivalente a uma sala cheia de gente a gritar e onde ninguém se entende e onde já nem se liga sequer ao enorme elefante branco no meio da sala ou ao porco que voa. E chego mesmo a pensar e lanço este – quase sacrílego – comentário para o ar, sobre a possibilidade de repensar os mecanismos modernos com a atitude e maneirismos dos antigos meios de comunicação.
O flyer entregue em mão com a frase melga e improvisada, o cartaz colado nas paredes mais inoportunas com a cola esgalhada com água e sabão azul, o telefonema do “vá lá, vá lá” intercalado com insinuações ao estado labrego e letárgico dos amigos. A aposta forte no passa palavra e na noção de privilégio e grupo. Falo de fazer isto mesmo e de encontrar forma de o fazer com igual energia nos meios novos de promoção. Com brio, positivismo, confiança e oferecendo um el dorado, que seguramente se concretizará se aparecer gente. Tudo isto não invalida a responsabilidade da organização se preparar convenientemente para receber as pessoas com detalhe, ao nível de comunicação, serviços, segurança e determinadas comodidades que não se devem nunca descurar.
Sim eu sei, falar é bonito mas ao contrário do que diz o espírito do velho do Restelo, não é difícil fazer. Dá trabalho? Dá! Mas o que raio não dá? Até as básicas funções fisiológicas dão um determinado trabalho e fazemo-las não importa como. Mas ao contrário destas ultimas, a que trato neste post é trabalho de todos, em conjunto.
( continua brevemente em modo delírio )